

Mastite e abscesso mamário
A infecção da mama (incluindo mastite infecciosa e abscesso mamário) acomete as mulheres comumente na faixa etária entre 15 e 45 anos, sobretudo as lactantes (produzem leite), podendo ser afetadas também recém-nascidas e adolescentes.
O agente patogênico mais frequentemente isolado é o Staphylococcus aureus.
Para resolução oportuna e imediata, prevenindo complicações, é necessário o imediato e adequado manejo da mastite. O tratamento da mastite infecciosa e não infecciosa inclui antibioticoterapia e remoção ativa do leite no caso de lactantes. Além disso, requer intervenção cirúrgica, como aspiração, incisão, drenagem, e possível excisão do ducto. É fundamental identificar e tratar quaisquer causas coexistentes de infecção que estejam subjacentes, a fim de descartar carcinoma mamário.
Definição
A mastite é uma inflamação mamária que ocorre com ou sem infecção.
Mastite com infecção:
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Lactacional (puerperal)
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Não lactacional (por exemplo, ectasia do ducto)
A mastite não infecciosa
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Inflamação granulomatosa idiopática
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Outros quadros clínicos inflamatórios como reação a um corpo estranho
Abscesso mamário é uma área de infecção localizada com um acúmulo de pus como proteção, podendo ou não estar associado à mastite.
Epidemiologia
A prevalência global da mastite em mulheres lactantes é de aproximadamente 1% a 10%, mas pode ser maior. (1) (2) (3) (4) (5) A ectasia do ducto (mastite periductal ou ductos dilatados associados à inflamação) ocorre em 5% a 9% das mulheres não lactantes. O abscesso mamário se desenvolve em 3% a 11% das mulheres com mastite, com uma incidência reportada de 0.1% a 3% em lactantes. (4) (6) (7) Aproximadamente 50% dos bebês com mastite neonatal desenvolverão abscesso mamário. (8) A mastite tuberculosa é rara, mesmo em países com tuberculose (TB) endêmica, com incidência relatada entre 0.1% e 3%. (9) A fístula mamária ocorre em 1% a 2% das mulheres. (6) A mastite granulomatosa idiopática é um quadro clínico mamário bastante raro. (10)
Etiologia
A mastite infecciosa e o abscesso mamário geralmente são causados pela colonização da pele por bactérias. Casos por Staphylococcus aureus são os mais comuns, seguidos pelos estafilococos coagulase-negativos. A maioria dos S aureus isolados é resistente à meticilina. (11) (12)
Até 40% dos abscessos podem ser polimicrobianos, com isolamento das bactérias aeróbias (Staphylococcus, Streptococcus, Enterobacteriaceae, Corynebacterium, Escherichia coli e Pseudomonas) e anaeróbias (Peptostreptococcus, Propionibacterium, Bacteroides, Lactobacillus, Eubacterium, Clostridium, Fusobacterium e Veillonella). (8) (11) (13) (14) (15) (16) As anaeróbias, por vezes, estão isoladas em abscessos e casos crônicos recorrentes. Um estudo dos abscessos mamários primários e recorrentes relatou que fumantes apresentavam maior chance de ter as bactérias anaeróbias (isoladas em 15% dos pacientes). (17)
Infecções da mama incomuns podem ser a apresentação inicial da infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV). (18) (19) Dentre os agentes menos comuns estão a Bartonella henselae (patógeno da doença por arranhadura do gato), micobactéria (tuberculose e micobactéria atípica), Actinomyces, Brucella, fungos (Candida e Cryptococcus), parasitas e infecção por larva da mosca-do-berne.
A mastite não infecciosa pode ser decorrente da ectasia do ducto subjacente (mastite periductal ou mastite plasmocitária) e, raramente, por material estranho como piercing nos mamilos, implante mamário ou silicone. (20) (21) A mastite granulomatosa (lobular) é uma doença benigna de etiologia desconhecida.(10)
Fisiopatologia
Na mastite lactacional, a estase ou a superprodução láctea, ligadas à infecção decorrente da entrada de bactérias na mama através de um mamilo traumatizado (por exemplo, rachado ou com fissuras) e/ou através da boca do lactente, pode levar à mastite. (5) O aumento temporário das mamas do neonato por conta dos hormônios maternos os torna vulneráveis à mastite.
Mastite lactacional: imagem microscópica mostrando glândulas hipersecretoras associadas à inflamação
Do acervo de Liron Pantanowitz, MD, Tufts University School of Medicine, MA
Na ectasia do ducto (ductos dilatados associados à inflamação), a sequência da doença inflamatória associada ao ducto envolve metaplasia escamosa dos ductos lactíferos. Isso causa bloqueio (mastopatia obstrutiva) com inflamação periductal e possível ruptura do ducto. (6) Ductos inflamados são propensos a infecção bacteriana. (22) (23) Se não for tratada, a mastite pode causar a destruição do tecido, resultando em um abscesso.
Ectasia de ducto com um tampão de queratina calcificado central e uma resposta inflamatória de células gigantes associada
Do acervo de Liron Pantanowitz, MD, Tufts University School of Medicine, MA
O abscesso lactacional tende a estar localizado na parte periférica da mama. Abscessos não relacionados à amamentação estão mais comumente localizados em áreas subareolares. Também pode ocorrer um abscesso sem mastite precedente aparente. A ruptura de um abscesso pode levar à drenagem sinusal, resultando em fístula. Na mastite tuberculosa, os bacilos micobacterianos podem entrar na mama através de:
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Inoculação direta (infecção primária) através da abrasão de um mamilo
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Portais distantes (infecção secundária), como disseminação linfática, disseminação hematogênica (miliar) ou disseminação contígua (por exemplo, empiema de necessidade).
A tuberculose mamária pode apresentar reação nodular, difusa ou esclerosante. A apresentação mais comum é um nódulo indolor com ou sem trato sinusal. A maioria dos casos de mastite tuberculosa é secundária, e a infecção ocorre pela disseminação contígua dos linfonodos (mais comumente axilares, seguidos dos cervicais e mediastinais) ou menos comumente pela pleura ou parede torácica, ou ainda por via hematogênica. A tuberculose primária da mama é rara. Alguns casos de mastite tuberculosa podem ser confundidos com carcinoma mamário.
Mastite tuberculosa: mamografia mostrando uma lesão de massa no quadrante superior externo
Adaptado do Internet J Surgery (2007); usado com permissão
Os granulomas necrosantes são as características histopatológicas marcantes da infecção por tuberculose. Na mastite granulomatosa idiopática, a inflamação granulomatosa não necrosante é centrada em lóbulos que, clinicamente, podem resultar em massa indolor.
Imagem microscópica de inflamação granulomatosa não necrosante na mama
Do acervo de Liron Pantanowitz, MD, Tufts University School of Medicine, MA
Classificação: tipos de mastite e abscesso mamário
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Mastite lactacional: inflamação da mama com ou sem infecção associada à amamentação.
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Mastite não lactacional: inflamação da mama associada ou não a infecção na mama não lactante.
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Mastite não infecciosa: inflamação da mama devida a uma etiologia não infecciosa e/ou idiopática.
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Mastite subclínica: refere-se ao achado de uma razão elevada de sódio/potássio e interleucina no leite sem a presença de mastite clínica. (1)
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Abscesso mamário: infecção da mama localizada com um acúmulo de pus como proteção.
Fonte
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2. Betzold CM. An update on the recognition and management of lactational breast inflammation. J Midwifery Womens Health. 2007;52:595-605.
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4. Amir LH, Forster D, McLachlan H, et al. Incidence of breast abscess in lactating women: report from an Australian cohort. BJOG. 2004;111:1378-1381.Resumo(external link)
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9. Hamit HF, Ragsdale TH. Mammary tuberculosis. J R Soc Med. 1982;75:764-765.Texto completo(external link)
10. Al-Khaffaf B, Knox F, Bundred NJ. Idiopathic granulomatous mastitis: a 25-year experience. J Am Coll Surg. 2008;206:269-273.
11. Moazzez A, Kelso RL, Towfigh S, et al. Breast abscess bacteriologic features in the era of community-acquired methicillin-resistant Staphylococcus aureus epidemics. Arch Surg. 2007;142:881-884.Texto completo(external link)
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22. Bundred NJ, Dixon JM, Lumsden AB, et al. Are the lesions of duct ectasia sterile? Br J Surg. 1985;72:844-845.
23. Dixon JM. Periductal mastitis/duct ectasia. World J Surg. 1989;13:715-720.




Editado por Thaís de Albuquerque
Graduanda de Medicina da UFF